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Movimentos sociais pró-governo convocam para o dia 13 de março (sexta-feira) uma manifestação nacional para “defender a Petrobras”, enquanto nas redes sociais se divulga o 15 de março (domingo) como protesto a favor do impeachment de Dilma. Mais do que uma divisão da sociedade, acho que essas duas datas expressam a atual fragmentação brasileira. Fragmentação que vai além do gostar ou não de Dilma. É a catalisação nas ruas de múltiplas insatisfações (das quais o governo poderá se safar ou não, a ver).
O Brasil fragmentado se expressa desde já com caminhoneiros pedindo a redução do preço do diesel e professores no Paraná exigindo seus salários. Em Brasília, com a Câmara, às vésperas de votar medidas de ajuste fiscal, olhando para o próprio umbigo e decidindo reajustar verbas para o exercício do mandato dos deputados. Um custo adicional de R$ 112 milhões, que pesa sobretudo pelo simbolismo do momento, quando se discute restrições do acesso a direitos trabalhistas. País em transe, onde os partidos políticos inflam-se em número de legendas – são 28 no Congresso – enquanto a maioria da população (75%) os rejeita.
A fragmentação se reflete também na raiva de setores e grupos que perdem ou perderam poder aquisitivo. Da nova classe média, ou classe C, cuja ascensão social se mantém em bases precárias e pode estar ameaçada. Não é somente a inflação, mas o acesso a bens de consumo, como celular e TV a cabo, que geraram novos custos para os quais não há renda familiar (até aqui, tivemos um quadro de pleno emprego, mas os trabalhos são precários). Na política, parte da oposição vai para o enfrentamento, embora o governo tenha adotado as medidas econômicas que ela, oposição, defendia em campanha.
Toda essa pororoca de disputas e insatisfações estará nas ruas no mês de março que desponta. Com uma pimenta a mais: até lá já saberemos a lista dos políticos acusados pela Procuradoria Geral da República de desvios na Petrobras a serem, possivelmente, julgados pelo STF. Dependendo da extensão da lista e de seus integrantes, a guerra de todos contra todos pode se ampliar, tornando o enredo mais complexo e imprevisível.